O que CPI deve esclarecer com convocação de representante da Davati

ipiauurgente.blogspot.com 7/02/2021 08:40:00 AM 0

O que CPI deve esclarecer com convocação de representante da Davati

Comissão quer explicações para tentativa de venda de vacinas por empresa sem acesso aos imunizantes

Sérgio Lima/Poder360 01.jul.2021

Principal elo entre a Davati Medical Supply e o Ministério da Saúde, Cristiano

Alberto Hossri Carvalho foi convocado a depor na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, do Senado. A data de sua apresentação não está marcada. O Poder360 apurou que houve resistência no colegiado, mas prevaleceu a necessidade de ouvir o representante formal da Davati no Brasil.

Os senadores perderam a chance de extrair explicações pontuais de Luiz Paulo Dominghetti Pereira, cabo da Polícia Militar de Minas Gerais que se apresentou como representante da Davati, nesta 5ª feira (01.jul.2021). Foi ele quem acusou o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, de pedir o acréscimo de US$ 1 por dose de vacina que a empresa queria vender ao governo.

Dias negou ter pedido a propina. Foi demitido no mesmo dia da acusação.

Carvalho se mantém recluso. Não respondeu ao telefonema nem ao email e mensagens por redes sociais enviados pelo Poder360 nesta 5ª feira. Senadores da comissão acreditam que ele terá muito a explicar à CPI. Entre outros tópicos a serem explorados pelos congressistas, estão os seguintes:

1º – O PROPÓSITO DA NEGOCIAÇÃO DA DAVATI.

Sediada no Estado norte-americano do Texas, empresa se dispôs a fornecer 400 milhões de doses da vacina contra a covid da AstraZeneca para o Ministério da Saúde. A rigor, a empresa não teria como obter as vacinas por meios legais.

A AstraZeneca informou que “as doses são ofertadas com base em acordos assinados com governos e organizações multilaterais do mundo todo, inclusive o Covax facility”.

“Por isso, a AstraZeneca atualmente não oferta vacina por meio do mercado privado nem trabalha com intermediários no Brasil“, disse o laboratório ao Poder360, por meio de sua assessoria de imprensa.

Carvalho negociou formalmente com Roberto Ferreira Dias e o então secretário-executivo da pasta, Élcio Franco Filho, no dia 26 de fevereiro, no prédio do ministério. A informação foi confirmada à CPI da Covid por Luiz Paulo Dominghetti Pereira.

A proposta formal da Davati foi enviada a Dias, “via” Domingheti, em 26 de fevereiro, como mostram documentos obtidos pela CPI. Descrevia o fornecimento das 400 milhões de doses ao preço de US$ 3,5 por unidade, em um total de US$ 1,4 bilhão. O documento estava assinado por Herman Cárdenas, da Davati.

Cárdenas reconheceu a negociação. Mas não respondeu ao Poder360 uma série de questões, entre as quais como conseguiria obter as vacinas que prometia entregar ao governo brasileiro. Carvalho, diante dos senadores, poderá esclarecer se havia meios ou se havia alguma motivação ilegal.

2º – A RELAÇÃO DE CARVALHO COM DOMINGHETTI

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Dominghetti se apresentou como “representante” da Davati e acusou Dias de ter pedido propina de US$ 1 por dose de vacina a ser entregue. O contato de Dominghetti com a reportagem da Folha foi intermediado por Carvalho.

Também foi Carvalho, segundo Dominghetti, quem lhe forneceu áudio que apresentou à CPI da Covid. A intenção seria provar que o deputado Luiz Miranda (DEM-DF) teria tentando intermediar negociações com a Davati sobre compra de vacinas. O áudio, porém, tratava de uma compra de luvas de nitrilo a uma empresa americana em setembro de 2020.

O cabo da PM mineira não conseguiu explicar a barrigada aos senadores. Caberá a Carvalho elucidar se ele é seu parceiro, sócio, empregado informal e recebe remuneração por seu trabalho. Ou, pelo menos, como um cabo da PM em serviço em Alfenas (MG) conseguiu se tornar negociador de interesses da empresa que Carvalho representa com o Ministério da Saúde.

Carvalho, em princípio, se valeu de Dominghetti para o encontro informal com Dias, para denunciar o suposto pedido de propina e para tentar envolver o deputado Miranda em uma negociação com a Davati. Sua motivação não está clara.

Tampouco há certeza sobre a presença de Carvalho no jantar. Dominghetti citou Dias e o coronel da reserva Marcelo Blanco, mas não disse quem era a 3ª pessoa presente.

3º – POR QUE A NEGOCIAÇÃO NÃO PROSPEROU

Hermán Cardenas informou em sua nota que a venda das 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca não foi adiante. Carvalho poderá indicar a razão, assim como Dias, convocado a depor na CPI na 4ª feira (07.jul).

Não está claro se o valor oferecido de US$ 3,5 por dose já incluía ou não o US$ 1 supostamente solicitado por Dias. Carvalho poderá, quem sabe, elucidar a dúvida dos senadores.

O Poder360