‘Taxa de mercado, operação normal’, diz banco que financiou casa de R$ 6 mi de Flávio BRASIL

Foto: Reprodução/YouTube

O presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, afirmou que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) não recebeu vantagens no financiamento para a compra de uma casa de R$ 5,97 milhões em um bairro nobre da capital federal. “Taxa é taxa de mercado. Operação normal. A gente é líder aqui no Distrito Federal”, disse Costa ao Estadão nesta terça-feira, 2.

Denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o senador Flávio e sua mulher, a dentista Fernanda Antunes Bolsonaro, compraram o imóvel luxuoso, perto do Lago Paranoá, como revelou ontem o site “O Antagonista”. O Estadão também confirmou a compra. Segundo registro feito no 1º Ofício de Registro de Imóveis do Distrito Federal, em 2 de fevereiro de 2021, o BRB financiou R$ 3,1 milhões do imóvel. O pagamento poderá ser feito em 360 parcelas, a uma taxa de juros efetivos de 4,85% ao ano e taxa de juros reduzida de 3,71% ao ano, além da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial.

Segundo o simulador disponível no site do banco, é possível obter um financiamento semelhante, com essa taxa de juros, mas desde que o interessado comprove uma renda mínima de R$ 46,4 mil. Pela simulação, o valor da primeira parcela ficaria entre R$ 18.738,94 e R$ 18.574,47, dependendo da seguradora escolhida.

Como senador, Flávio recebe salário bruto de R$ 33,7 mil, que cai para R$ 24,9 mil após descontos. Desta forma, cada parcela do financiamento consumiria 70% dos seus vencimentos. A mulher do parlamentar tem um consultório de dentista, ou seja, não tem renda fixa.

O BRB é uma instituição financeira do governo do DF, comandado por Ibaneis Rocha (MDB), aliado da família Bolsonaro. Costa, que preside o banco desde 2019, é um dos nomes cotados para substituir André Beltrão no Banco do Brasil, instituição ligada ao governo federal.

A nova casa do filho do presidente da República fica localizada no setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, bairro nobre da capital foi vendida em anúncio como “a melhor vista de Brasília da suíte máster”. O senador, no entanto, registrou o imóvel em um cartório de Brazilândia, cidade de perfil rural a 50 km do Plano Piloto. A casa tem 1,1 mil m², com quatro suítes amplas, academia, piscina e spa com aquecimento solar.

O valor do novo imóvel é mais que o triplo do total de bens declarados por Flávio à Justiça Eleitoral em 2018, quando disputou uma vaga no Senado pelo Estado do Rio de Janeiro.

Naquela ocasião, Flávio declarou um total de bens de R$ 1,74 milhão, incluindo um apartamento residencial na Barra da Tijuca, no Rio (R$ 917 mil), uma sala comercial no mesmo bairro (R$ 150 mil), 50% de participação da empresa Bolsotini Chocolates (uma franquia da Kopenhagen, de R$ 50 mil), um veículo Volvo XC de R$ 66,5 mil e aplicações e investimentos que somavam R$ 558,2 mil.

Por meio de sua assessoria, Flávio afirmou nesta terça-feira, 2, que, além do financiamento imobiliário, vendeu um outro imóvel no Rio de Janeiro para comprar a casa em Brasília. Horas depois, o próprio senador citou a venda desse imóvel e também da franquia de uma loja de chocolates que mantinha na capital fluminense em vídeo divulgado pelas redes sociais.

“A casa adquirida pelo senador Flávio Bolsonaro em Brasília foi comprada com recursos próprios, em especial oriundos da venda de seu imóvel no Rio de Janeiro. Mais da metade do valor da operação ocorreu por intermédio de financiamento imobiliário”, diz a nota, que complementa. “Tudo registrado em escritura pública. Qualquer coisa além disso é pura especulação ou desinformação por parte de alguns veículos de comunicação.” No vídeo divulgado mais tarde, o senador disse que a venda de seu imóvel no Rio se deu por instrumento particular de compra e venda, mas que, em breve, a escritura pública estará disponível.

Investigação

A compra da casa de Flávio Bolsonaro em Brasília veio à tona na segunda-feira, 1, mesmo dia em que a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu retirar da pauta dois recursos da defesa de Flávio Bolsonaro que poderiam levar à “implosão” do caso das rachadinhas, que investiga um esquema em que assessores repassariam seus salários ao chefe.

Em novembro do ano passado, após mais de dois anos de investigação, Flávio foi denunciado pelo Ministério Público do Rio. Segundo o MP fluminense, a organização criminosa “comandada” por Flávio desviou R$ 6,1 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa do Rio.

Além do senador e sua mulher, foram denunciados o ex-assessor Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema, e outros 15 ex-assessores. O caso foi revelado pelo Estadão no dia 6 de dezembro de 2018, após relatório do Coaf apontar movimentação atípica de R$ 1,2 milhão, durante um ano, na conta de Queiroz.

O senador e seu sócio, Alexandre Santini, acabaram entregando a loja de chocolates após o estabelecimento entrar no radar da investigação do Ministério Público. A franquia da Kopenhagen é apontada pela Promotoria como uma forma de o senador lavar dinheiro supostamente desviado da Assembleia Legislativa do Rio quando era deputado estadual.

O BRB, por sua vez, informou que “é líder na concessão de crédito imobiliário no DF e fechou 2020 com R$ 1,94 bilhão em financiamentos concedidos, o que representa Market Share de 38,6%”. “Respeitando o sigilo bancário, o BRB não comenta casos específicos de seus clientes”, comunicou o banco também na segunda-feira.

Estadão Conteúdo

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