Futuro presidente da Petrobras promete não ceder a pressões políticas

Foto: Mauro Pimentel/AFP

Indicado por Jair Bolsonaro para a presidência-executiva da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna disse que não cederá a eventuais pressões políticas, incluindo aquelas relacionadas a cargos na empresa, e avalia que parte da diretoria atual poderá continuar, pelo menos em um primeiro momento de sua gestão.

Em entrevista à Reuters, ele afirmou que pretende “valorizar a prata da casa” ao apontar executivos para os principais postos na companhia, que tem “excelente” corpo técnico.

Luna afirmou ainda esperar que o governo encontre uma solução para evitar volatilidades de preços de combustíveis, mas sem que a Petrobras pague a conta. O descontentamento de Bolsonaro com reajustes efetuados pela empresa, em momento de alta no petróleo, está por trás da queda do presidente atual da companhia, Roberto Castello Branco.

Assim, Luna não visualiza uma troca completa na diretoria executiva, avaliando após conversa informal com Castello Branco que ao menos dois executivos podem sair juntamente com o presidente atual. Esses teriam manifestado vontade de deixar a estatal —o general não mencionou nomes.

“Acho até que mais pessoas podem sair, não de imediato, mas farão por vontade própria. Não pretendo chegar fazendo reformulação, e da minha parte não houve nenhum movimento”, afirmou, na noite de terça-feira.

A indicação do general da reserva para ocupar uma vaga no Conselho de Administração da estatal será apreciada em 12 de abril em uma assembléia de acionistas. Depois da eleição dos novos conselheiros, Luna deverá ser eleito pelos seus pares para o posto de principal executivo.

Luna comentou que já fez um contato “informal” com o atual presidente da estatal, em momento em que a transição de comando está sendo capitaneada pelo Ministério de Minas e Energia.

O mandato de Castello Branco terminou em 20 de março, mas foi feito um acordo para que ele permaneça no cargo até a mudança de comando.

“Temos uma conversa informal, amigável, cortês e não entramos em nenhum mérito sobre alguma coisa. Ele se colocou à disposição e disse que poderia contatar algum diretor”, declarou.

“Espero poder falar com alguns diretores para saber o que eles pensam, acham e conhecer”, adicionou.

Luna ressaltou que não pretende ceder a eventuais demandas políticas por cargos importantes na estatal.

“Indicações políticas não fazem parte da minha ideia de gestão”, disse ele. “Já enfrentei pedidos e pressão (política), mas não aceitei e não foi fácil… Tem que construir um time de olho nos interesses da empresa e do Brasil”, afirmou ele.

“Entendo que as pessoas têm que ser escolhidas com base na competência testada, medida e mensurada, sem se subordinar a outro tipo de interesse”, afirmou ele.

“O melhor é trabalhar com o que se tem lá (na Petrobras). Empresas como essa têm funcionários de carreira, bem preparados, com valores, crenças e propósitos.”

Procurada, a Petrobras não comentou imediatamente as declarações de Luna.

Política e Combustíveis

Luna promete uma gestão de diálogo e de posições democráticas. Essas são, segundo ele, marcas de suas passagens por Exército, Ministério da Defesa e a hidrelétrica binacional de Itaipu, onde esteve no comando até recentemente.

“Sou um gestor de muita transparência, não surpreendo as pessoas. Primeiro a gente conversa, sinaliza, troca informações e depois toma as decisões”, afirmou ele.

“Minha vida inteira conversei com as pessoas, ouvi, e chega um momento que tem se posicionar… A gente tem que buscar a vontade coletiva e sempre buscando princípios como retidão, sem corrupção nem vantagens indevidas”, complementou.

O futuro presidente da Petrobras lembrou que o governo tem discutido possíveis soluções visando criar uma política de amortecimento de preços dos combustíveis, após a Petrobras, com seu esquema de paridade ante o mercado internacional, ter elevado fortemente as cotações neste ano.

O modelo a ser adotado ainda não foi definido, mas Luna considera fundamental a criação de um mecanismo de estabilização que dê mais previsibilidade ao mercado de combustíveis, como quer Bolsonaro.

“A ideia de criar um colchão, um amortecedor de preços, está viva e existe. Não tem nada pronto. O governo vai trabalhar com isso e a Petrobras vai contribuir, ajudar e participar. Isso não significa pagar a conta”, disse ele.

“Quando chegar lá (na Petrobras) espero que esteja já bem pensado e com a ideia mais amadurecida”, adicionou ele.

Umas das possibilidades em pauta seria a criação de um fundo estabilizador que seria abastecido com recursos dos royalties do petróleo.

Em tempos de maior flutuação nas cotações do petróleo, os recursos seriam usados para segurar os preços dos combustíveis e diminuir o impacto para consumidores e economia, sem afetar a estatal.

“Nos momentos de ganhos maiores, o governo guardaria esses recursos, e usaria quando fosse necessário. A Petrobras como empresa de capital aberto tem que respeitar regras e normas que, se não forem seguidas, podem gerar ações bilionárias na Justiça daqui e lá fora. É uma conta terrível. Tem que conciliar acionistas da Petrobras com consumidor brasileiro.”
Rodrigo Viga Gaier / Folha de São Paulo

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