Bolsonaro avalia trocar comando da Saúde diante de crise da Covid e pressão do centrão

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Pressionado pelo agravamento da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o general Eduardo Pazuello deve deixar o ministério da Saúde nos próximos dias. Caso a troca se confirme, o país terá seu quarto ministro em pouco mais de 12 meses de pandemia.

Conforme informou a coluna de Monica Bergamo, a cardiologista Ludhmila Hajjar, do Incor e da rede de hospitais Vila Nova Star, já desembarcou em Brasília para conversar com o presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de assumir a pasta.

A notícia da possível troca foi dada primeiro pelo site G1 e pelo jornal O Globo neste domingo (14). Segundo o diário carioca, o ministro pediu para sair alegando problemas de saúde. A Folha confirmou que Pazuello alegou problemas cardíacos e que não se recuperou 100% das sequelas da Covid-19, que contraiu em outubro.

Em nota nesta mesma tarde, o Ministério da Saúde afirmou que “o ministro Eduardo Pazuello segue à frente da pasta, com sua gestão empenhada nas ações de enfrentamento da pandemia no Brasil”. O texto, contudo, não cita prazos.

​O chamado “centrão” redobrou a pressão sobre Bolsonaro pela saída do general e quer indicar alguém ao cargo. O governo entendeu o recado e, na noite de sábado (13), o presidente e ministros militares foram ao encontro de Pazuello para discutir a situação.

A cobrança se dá no momento em que a escalada da pandemia assume velocidade inédita no país. No sábado (13), o Brasil registrou o 15º dia seguido de recorde da média de mortes em sete dias, 1.824 e o 52º consecutivo com o patamar de mortes acima de mil por dia.

Na quarta (10), o consórcio de veículos de imprensa formado por Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 aferiu, com as secretarias estaduais de saúde, o recorde de registros de óbito em 24h de toda a pandemia: 2.349, número que extrapola em mortes todas as tragédias brasileiras.

Ainda no início da tarde deste domingo (14), parlamentares diziam não saber se a troca aconteceria agora ou em 15 dias, devido a uma expectativa repassada a eles de que a curva de mortes diminua. Não há, contudo, nenhum indício de que isso vá ocorrer —pelo contrário.

Com a pandemia se agravando pelo país, Bolsonaro tem dando uma guinada em seu discurso, agora a favor da vacina —o que fez do ministro, cuja pasta errou entregas de doses para os estados e que só nos oito primeiros dias neste mês reduziu cinco vezes as previsões de vacinas, um telhado de vidro.

Em entrevista à Folha publicada no sábado, o presidente do conselho que reúne os secretários estaduais de saúde, Carlos Lula, afirmou que ele e os colegas perderam a paciência com o general. Os estados enfrentam um cenário de colapso hospitalar em curso ou iminente, com a explosão de internações e mortes de norte a sul do país.

Pesa também no cálculo do entorno de Bolsonaro o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao jogo político. Para parlamentares, este novo cenário serviu como catalisador da mudança de postura de Bolsonaro e seu governo.​

A dúvida é quem poderia agora ocupar o cargo: se um médico sem ligação partidária, um político ou um militar.

O nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), já havia perdido força no Congresso. Parlamentares diziam que, quando ele comandou o Ministério da Saúde, não foi “solidário” com seus pares. Políticos aliados defendem, no lugar, o do deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), que tinha aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

No entanto, a ala militar do governo prefere que o sucessor de Pazuello seja um técnico para marcar a nova fase que o governo tenta vender diante do desgaste político de Bolsonaro por causa da escalada de óbitos e da escassez de vacinas.

Um médico, por sua vez, ajudaria na recente repaginação do discurso presidencial. Esta, com a adoção de uma retórica pró-vacina, teve como um de seus principais idealizadores o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e foi motivada, entre outros pontos, pelo temor de uma perda de apoio empresarial ao governo.

Bolsonaro vem recebendo nas últimas semanas conselhos de que é preciso se livrar da imagem de negacionista da pandemia, que já passou de 2.000 mortos por dia, e dar uma guinada em defesa da ampla imunização contra o coronavírus.

O diagnóstico —também feito pelo ministro Fábio Farias (Comunicações) e pelo novo chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), almirante Flávio Rocha— foi reforçado diante da inesperada reabilitação dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), potencial nome para disputar as eleições de 2022 contra Bolsonaro.

Auxiliares do presidente ressalvam, porém, que há limites para a mudança de retórica de Bolsonaro —e que ela não atinge as críticas ao isolamento social e às políticas adotadas por governadores.

Confirmada a mudança, o sucessor ou sucessora de Pazuello será o quarto a ocupar o cargo em 12 meses de pandemia. Antes do general, chefiaram a pasta os médicos Luiz Henrique Mandetta e, por 28 dias, Nelson Teich.

Daniel Carvalho, Natália Cancian e Raquel Lopes, Folhapress

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