Neto e Rui dão show na gestão da crise do coronavírus, por Raul Monteiro*

Foto: Divulgação/Arquivo
Há pouca chance de o presidente da República conseguir transferir a governadores e prefeitos a responsabilidade pelas mortes causadas pelo novo coronavírus. Mesmo porque, se a situação de infectados e mortos por esta terrível doença que ele chamou de “gripezinha” e bateu ontem a marca de quase seis mil óbitos no país, não está ainda pior é devido ao grande esforço que executivos de governos e prefeituras têm feito – na falta de uma coordenação nacional que deveria ser exercida por Jair Bolsonaro (sem partido) – para enfrentá-la, praticamente sozinhos, e em muitos Estados e municípios, inclusive, sem os recursos necessários.

O exemplo da Bahia é eloquente. No Estado, o prefeito ACM Neto (DEM) foi o primeiro a adotar as medidas restritivas para evitar a rápida disseminação da Covid 19, no que foi acompanhado de perto e solidariamente pelo governador Rui Costa (PT). Em seguida, os dois passaram a adotar vários procedimentos complementares à estratégia para que o enfrentamento obtivesse sucesso até o ponto de, inclusive, deixando as divergências políticas de lado, se unirem e decidirem tomar iniciativas conjuntas que, até agora, têm sido as responsáveis pelo controle obtido na capital e na Bahia.

A união de governo e Prefeitura está longe, no entanto, de representar algum tipo de tranquilidade para os dois gestores. No Sul da Bahia, por exemplo, a situação se descontrolou por se tratar de um hub frequentado pela típica e acéfala elite econômica nacional, deslumbrada, egocêntrica, prepotente e descomprometida com o país e seu povo, que, por meio de seus jatinhos particulares e de festas milionárias, em plena eclosão da pandemia no país, semeou a doença no forte pólo turístico representado por cidades como Porto Seguro e Itacaré, através das quais vários outros municípios da região acabaram sendo atingidos.

A despeito de todas as medidas que vem adotando e, em alguns casos, renovando, o prefeito de Salvador chegou a admitir, numa das muitas coletivas que, assim como o governador, tem dado para explicar e justificar as iniciativas, sua preocupação com a possibilidade de a capital baiana viver um colapso de seu sistema de saúde entre meados e finais do próximo mês de maio. Ágil, atributo que já incorporou à sua marca de gestor, Neto associou às medidas restritivas um conjunto de ações no campo social, inclusive com a rápida distribuição de recursos para informais, muito antes de o governo federal implementar, a duras penas, seu auxílio emergencial, que a abundante e desprotegida população pobre tem levado dias para poder sacar em filas intermináveis da Caixa.

Igualmente preocupado com o impacto do isolamento social na sobrevivência econômica dos mais pobres, Rui resolveu ajudar alunos da rede pública com a distribuição de um voucher de R$ 50, medida que só não foi até agora melhor sucedida devido aos limites gerenciais evidentes de seu secretário de Educação. Com taxas de sucesso variáveis, são todas iniciativas que demonstram o compromisso do governador e do prefeito de Salvador com a população de seu Estado e município, respectivamente. Uma atenção que não pode ser igualada pelo presidente, motivo porque sua manjada tentativa de colocar no outro a culpa por sua inação e incompetência não tem como prosperar.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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