Carreata em SP mira Doria e Maia em meio a pedidos de intervenção militar

Foto: Folha de S. Paulo
A concentração da carreata contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ocupou um quarteirão inteiro em frente ao ginásio do Ibirapuera neste sábado (18).

O protesto é contra as medidas de isolamento adotadas pelo tucano para conter a pandemia de coronavírus. Na sexta (17), Doria anunciou que a quarentena foi prorrogada até 10 de maio.

Vestidos de verde e amarelo e com bandeiras do Brasil enfeitando os veículos, os manifestantes, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enfileiraram dezenas de carros e motos por volta das 13h. Parte deles usava máscaras, mas uma maioria estava desprotegida –incluindo idosos, que formam grupo de risco.

“Fora, Doria”, “impeachment Doria” e “Globo lixo” estampavam adesivos pregados nos veículos.

Também há adesivos de “fora, Maia”. Na quinta-feira (16), Bolsonaro acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de conspirar para derrubá-lo.

Em alguns carros e algumas camisetas, há pedidos de intervenção militar.

Segundo manifestantes, a carreata deve passar pelos Jardins, pela marginal Pinheiros, pela ponte Estaiada e a avenida 23 de Maio antes de terminar na avenida Paulista.

O protesto repete o movimento do último sábado (11), quando manifestantes também percorreram pontos de São Paulo pedindo a saída de Doria. Segundo os participantes, as carreatas surgiram de forma espontânea e popular –não há liderança clara.

O empresário Mauro Reinaldo, 36, é um dos organizadores da carreata. Ele afirma que não faz parte dos já conhecidos movimentos de direita que costumam convocar protestos bolsonaristas.

“Conheço muitas pessoas e fui chamando. Sou gestor de empresa e tenho que ter visão lá na frente. De onde as pessoas vão tirar seu recurso?”, diz ao criticar o isolamento. Para ele, Doria está agindo como “um autoritário e ditador”.

Ao contrário de outros participantes da carreata, que minimizam a pandemia de coronavírus, Reinaldo diz que o vírus existe de fato, mas que o isolamento está exagerado.

Apoiador de Bolsonaro, ele teve que fechar sua tinturaria em Itupeva (SP) e sua loja de tecidos no Brás. Diz que ainda não demitiu ninguém. “Não vou demitir, nem que tenha que vender meu carro”, afirma ao lado do SUV preto.

Embora a carreata seja de iniciativa popular, movimentos de direita dão apoio e divulgação. O Movimento Direita Conservadora, por exemplo, levou um carro de som para a concentração da carreata.

O Movimento Conservador e o Avança Brasil divulgaram as carreatas deste sábado e do anterior nas suas redes.

“Desde quando o presidente pediu o cancelamento do ato de 15 de março, nós o seguimos na recomendação de não marcar manifestação e aglomeração. Mas não somos contra as carreatas. A gente não se omite em divulgar o apoio”, afirma Edson Salomão, do Movimento Conservador.

No domingo (19), também está prevista uma carreata, mas ao contrário das anteriores, com uma liderança mais clara. Foi convocada pelo movimento Nas Ruas, que costuma mobilizar protestos bolsonaristas pelo país.

Enquanto o protesto de sábado tem como tema o impeachment de Doria, a carreata do Nas Ruas é contra Maia, contra o projeto de socorro aos estados que tramita no Congresso e a favor do isolamento vertical, ou seja, apenas de grupos de risco.

A convocação do Nas Ruas pede que os manifestantes se protejam do vírus: fiquem dentro dos carros e usem máscaras e álcool em gel. Segundo Tomé Abduch, líder do Nas Ruas, o grupo defende “o isolamento vertical responsável, seguindo as futuras orientações do novo ministro da Saúde [Nelson Teich]”.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) compartilhou chamado do Nas Ruas para a carreata.

No carro de som da carreata deste sábado, manifestantes chamavam para a carreata de domingo. Reinaldo, porém, diz que não vai participar. Ele acredita que o protesto deve mirar Doria, que é o responsável pela quarentena, não Maia.

Nas convocações de ambas as carreatas nas redes sociais, se misturaram palavras de ordem contra o que os manifestantes consideram ser uma ditadura do governador Doria e pedidos de intervenção militar para proteger o governo Bolsonaro.

A exemplo do que ocorreu na última manifestação de rua a favor de Bolsonaro e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, no dia 15 de março, parte da população atendeu ao chamado de autoridades, inclusive do Ministério da Saúde, para evitar aglomerações. Restaram no protesto aqueles mais radicalizados, que levavam placas de AI-5 e intervenção militar.

Em meio aos posts de divulgação das carreatas de sábado e de domingo, também começaram a surgir planos de ir a porta de quartéis pressionar as Forças Armadas para intervir a favor de Bolsonaro, fechando Congresso e STF.

Um dos homens a chamar no Twitter a carreata de sábado afirmou que o povo deve convocar as Forças Armadas para proteger a nação.

Ao longo da semana, em falas em frente a Assembleia Legislativa divulgando a carreata, ele minimizou a pandemia, chamando-a de farsa, e criticou Doria pelas medidas restritivas: “Você não vai rastrear ninguém, cara, aqui não é ditadura, aqui é democracia. É direito de ir e vir ou vocês rasgaram a Constituição?”.

Reinaldo, organizador da carreata de sábado, diz não concordar com os intervencionistas. Os movimentos que divulgaram a carreata também são contra.

“Não endossamos isso”, diz Ricardo Sicchiero, do Avança Brasil. O lado ruim de não ter líder é que qualquer um aparece e fala o que quer”, afirma Salomão, do Movimento Conservador.

O Nas Ruas, que convoca a carreata de domingo, também rechaça o intervencionismo. “Intervenção militar não é nossa pauta. Acreditamos nas instituições fortes, o que queremos é o fim da politicagem”, diz Abduch.

Além de São Paulo, já houve carreatas no Rio, em Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Aracaju e outras cidades.

Folhapress

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