Articulação por Denice é interpretada como “racismo” contra Fabya, Vilma e Olívia

Foto: Manu Dias/Arquivo/Militantes do Movimento Negro no PT dizem que Rui e Wagner desprezam as candidatas negras do PT em favor de outra, "deles"
Os educados protestos de Juca Ferreira e de José Sérgio Gabrielli contra a candidatura da Major Denice Santiago à Prefeitura de Salvador pelo PT representam muito pouco diante da grande indignação por que setores do partido foram tomados desde a notícia, publicada no último sábado, por este Política Livre, de que ela teria aceito o convite do governador Rui Costa (PT) e do senador Jaques Wagner (PT) para entrar na disputa pelo Palácio Thomé de Souza.

Além de concordarem com a avaliação de Juca e Gabrielli de que a policial não tem vínculos com o movimento social nem experiência partidária, especialmente membros do movimento negro pertencentes ao PT consideram um absurdo que, diante da existência de duas pré-candidaturas de mulheres petistas negras – a da socióloga Vilma Reis e a da secretária Fabya Reis (Promoção da Igualdade) -, e de uma terceira, a deputada estadual Olívia Santana, do PCdoB, o governador e o senador tenham decidido trazer alguém de fora da legenda com o mesmo perfil para concorrer.

Chegam a afirmar identificarem traços de racismo na escolha, argumentando que, diante da pressão por uma candidatura negra no partido, Rui e Wagner preferiram construir e apresentar um nome tirado da cartola, “deles”, ao invés de aceitar as opções que foram disponibilizadas pelo petismo, que consideram da melhor qualidade. “Eles querem uma negra da Casa Grande, deles. Não aceitam as negras da Senzala, como devem ver as candidatas do PT”, disse, com profunda indignação, pelo menos um dos três militantes que procuraram este site para protestar.

Um deles chegou a classificar como um verdadeiro acinte o fato de Denice pertencer à Polícia Militar, uma instituição que, conforme avalia, tem uma relação conflituosa com negros e pobres na Bahia, estando muitas vezes associada a ações que reforçam a condição de extrema desigualdade em que a maioria da população, que é negra, vive em favelas e na Periferia. “Como bem pontuou Gabrielli, Denice vai representar mais a corporação policial do que a nós”, afirmou uma petista.

Ela diz considerar a opção também problemática pela militarização que vê no governo Rui Costa. “Não bastasse o que estamos assistindo no Brasil, que está sendo aparelhado pelas forças militares pelo governo fascista de Jair Bolsonaro, o governador e o senador escolhem uma candidata da PM, depois de o primeiro adotar o modelo de militarização das escolas estaduais. Afinal, onde estamos?”, questiona, cobrando do governador uma posição pela liberdade e de reforço à sociedade civil neste momento crítico.

Um outro petista afirma que a atitude de Rui e Wagner é não só um ato de “racismo” contra Vilma e Fábia, que são petistas, mas também em relação à comunista Olívia, sobre quem ele acha que deveria recair a escolha, no caso de as petistas se inviabilizarem. “Esta deveria ser a ordem num processo de escolha sério. Primeiro, as do PT, mas, no caso de se inviabilizarem, a do PCdoB, que estão aí batalhando por um lugar ao sol. O que estas mulheres fizeram para receber tamanho desprezo? É por que são negras?”, ataca.

Ele diz ver na tentativa de filiação da major mais um capítulo da operação “Tabajara” na qual se constituiu, primeiro, a malograda articulação em favor da candidatura do presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, pelo PT, movimento que diz reforçar sua convicção de que tanto Rui quanto Wagner estão absolutamente perdidos em relação à sucessão de Salvador, enquanto o adversário, Bruno Reis (DEM), avança sozinho. “Queriam primeiro um homem, branco e rico. Agora, querem uma mulher, negra e pobre, mas não servem as nossas”, diz, completando:

– O que mudou nas pesquisas em que se baseiam?, questiona, prevendo uma verdadeira debandada de pré-candidatos petistas a vereador em Salvador para outras legendas se o partido escolher Denice, senão inúmeras desistências para concorrer ante um quadro de enfraquecimento da candidatura majoritária do partido. Segundo ele, é muito difícil que Denice consiga unificar o partido em torno de si, não por não ter qualidades pessoais evidentes e reconhecidas publicamente, mas por causa da imposição com que seu nome será sempre visto na legenda.
Por Politica Livre

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