Energia solar cresce até 1.000% ao ano na zona rural

Fazenda no município de João Dourado, localizada há 448 quilômetros de Salvador, é uma das que utilizam energia solar (Foto: Divulgação)
Sistema ganha cada vez mais adesão nas fazendas que chegam a economizar 60% na conta de energia


O mesmo sol que seca a terra, nunca gerou tanta energia na zona rural da Bahia como agora. Empresas que trabalham com a implantação já começam a se especializar em fazendas e chegam a registrar um crescimento de 1.000% ao ano. 

É o caso da Iresol Energia Solar. De acordo com diretor da empresa Belarmino de Castro Dourado, no ano de implantação do negócio eram instalados de 2 a 4 kits. Atualmente são até 30 sistemas básicos de auto geração por semana. 

“O setor agrícola está despertando para o sol, que é o grande parceiro do homem do campo. Em muitos casos a energia elétrica chega a representar até 30% do custo de produção. Com energia solar ele pode até zerar a conta”, destaca Belarmino.

A empresa fica em Irecê, onde o alto índice de radiação solar também tem incentivado a adesão ao sistema fotovoltaico na região de Irecê, área que chega a registrar cerca de 11 horas de sol intenso por dia, na maior parte do ano.

Um kit básico de energia solar, com seis painéis, tubulações, conexões e bomba de captação, custa atualmente cerca de 15 mil reais e tem vida útil de 25 anos. Esta é a estrutura básica suficiente para captar água de um poço artesiano.

“Este investimento permite retorno em até 2 anos, com a tarifa que se tem hoje. Depois de um estudo de viabilidade, se pode abater da conta entre 360 a 1.200 quilowatts. E se o agricultor troca pelo diesel, que é um combustível poluente, ainda beneficia o meio ambiente”, completa.

Sustentabilidade

Na Fazenda Lagoinha, no município de João Dourado, no centro norte da Bahia, são os 24 painéis solares que mantem as três bombas de captação de água funcionando. O sistema permite a retirada de água do poço e o abastecimento dos reservatórios, usados para irrigar as plantações de cebola e milho.

O produtor rural Paulo Dourado implantou o sistema em 2017. De lá para cá, ele desliga a energia elétrica durante o dia e usa apenas o sistema solar. Com o sistema já deixou de gastar mais de 60 mil reais com a conta de luz. A economia chega a 60%.

“É um excelente investimento, o sistema se paga em dois anos. Antes a conta de energia elétrica chegava a cerca de 5 mil reais por mês, depois caiu para 2 mil reais. E nós já estamos pensando em expandir para outra área, para dar água ao gado”, afirma o agricultor. A energia excedente é transformada em créditos que podem ser usados em até 5 anos.

O sistema fotovoltaico também foi implantado em cinco pequenas comunidades rurais entre os municípios de Umburanas e Sento Sé, no norte da Bahia, na região de Jacobina, onde o sistema não tem ligação com a rede elétrica e só é acionado durante duas horas por dia.

Os sete kits de painéis solares instalados nas comunidades permitem a captação de água do poço e abastecem os reservatórios. A água serve para manter produtivas as plantações orgânicas de hortaliças e frutas, cultivadas em formato de mandalas. Elas geram renda para cerca de cem famílias de agricultores familiares da região.

“É um sistema viável, sustentável e eficiente. A energia elétrica era muito cara para estas comunidades. Se não tivesse energia solar, elas teriam que parar de produzir e não poderiam manter o projeto de agricultura agroecológica integrada. A energia solar evita também um gargalo provocado pela baixa qualidade de energia convencional que era fornecida antes”, conta o engenheiro de alimentos Willmar Cristians Rodrigues, da Organização Mandala Desenvolvimento Sustentável, responsável técnica pela implantação dos projetos.

Os painéis têm 12 anos de garantia. Quando estiverem em pleno funcionamento, juntas, as comunidades de Roduleiro, Demanda, Federal, Barriguda da Brasília e Campo Largo terão capacidade para produzir, no mínimo, 20 toneladas de alimentos por mês. Nos últimos 6 meses já foram geradas 50 toneladas.

Potencial

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) existem no Brasil cerca de 71.700 sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede. Atualmente mais de 80 mil consumidores recebem créditos de energia elétrica via geração local, condominial, compartilhada ou através de autoconsumo remoto. 

A energia solar já é a sétima matriz energética brasileira com 1,2% do mercado. A energia gerada por hidroelétricas representa 60,8% e a éolica tem 8,6%. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaíca (Absolar) até 2022, devem ser investidos cerca de R$ 21,3 bilhões no segmento. 

Muitos destes investimentos devem ser feitos na Região Nordeste, onde o sistema solar também vem se popularizado em alguns estados.

Empresas de grande porte que possuem contas altas de energia elétrica, como redes de farmácias e laboratórios já estão implantando o sistema do uso desta energia. Foi assim que a multinacional austríaca Fronius, fabricante de sistemas fotovoltaicos, que atua em todos os estados do Nordeste, registrou crescimento de quase 300% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

“A energia limpa veio para ficar. Estamos muito focados no Norte e Nordeste com ações estratégicas para esta região”, afirma Alexandre Borin, gerente da Unidade de Negócio de Energia Fotovoltaica da empresa.

A empresa está de olho agora na zona rural e quer oferecer os serviços para fazendas, frigoríficos, usinas de açúcar e álcool. “A energia fotovoltaíca pode ser aplicada no agronegócio. Há há uma infinidade de segmentos que podem usufruir destes benefícios. Na verdade, todos os setores sem exceção, estão em busca de opções renováveis para reduzirem seus custos operacionais”. 

ALUGUEL DE ENERGIA É MAIS UMA OPÇÃO

Para quem não tem condições de instalar as próprias placas de energia solar, uma alternativa pode ser o aluguel de energia. Uma fazenda localizada em Ibotirama, no Vale do São Francisco, fornece o serviço. A Fazenda Solar Terra do Sol possui quatro usinas em operação e começou a “alugar” a energia há um ano.

“Os clientes recebem a conta normalmente da Coelba, mas ela vem com adição de crédito de quilowatt. Por exemplo, quem gasta mil quilowatts por mês, ao alugar a usina, que gera energia para o sistema geral, esses quilowatts são abatidos da conta, e ele passa a pagar à concessionária apenas a taxa básica que é de 88 reais”, explica o empresário Felipe Souto, diretor da fazenda.

O sistema é possível por que a lei permite a geração remota, ou seja, que a energia seja gerada em um lugar diferente da unidade beneficiada. O valor do aluguel corresponde a cerca de 80% do valor pago pela energia convencional. O sistema só está disponível para pessoas jurídicas, como condomínios, que possuem conta com valor mínimo de 7 mil reais.

“Nós construímos dentro da fazenda uma usina geradora para cada cliente. Através desse método, o valor fica menor do que a energia da rede. Por mês, o consumidor vai ter um desconto de até 20% do que ele pagaria para a Coelba. Já temos clientes que economizam até 40 mil reais por mês”, acrescenta Souto.

A empresa investe cerca de R$ 10 milhões de reais na construção de cada usina. Um dos clientes é um condomínio residencial Itaigara Garden Residence, que já consegui reduzir a conta de luz de 4 mil reais para cerca de 100 reais.

Segundo o administrador do condomínio Roque Alves, esta foi a alternativa para fugir dos aumentos constantes nas despesas com energia. “Tivemos uma revisão tarifária, que elevou as contas em mais de 18%. Foi muito mais vantajoso usar a fonte solar e ter descontos de 20% sem nenhum investimento na compra e instalação de placas”, afirma. 

Fonte: Correio