Líder em homicídios por arma de fogo, Simões Filho vira reduto de bandidos

Simões Filho, a cidade da Região Metropolitana de Salvador que ocupa a primeira posição em homicídios por armas de fogo no Mapa da Violência, virou reduto de bandidos de cidades vizinhas, como a própria capital.

No esquema bate e volta, criminosos de áreas já ocupadas por Bases Comunitárias de Segurança (BCS) passam a atuar também na cidade, que este ano ficou mais uma vez na ponta do ranking de violência divulgado pelo Instituto Sangari, com base em informações dos Ministérios da Justiça e da Saúde.

O delegado Adailton Adam, titular da 22ª Delegacia (Simões Filho), disse que as ações de criminosos de fora da cidade estão cada vez mais comuns. Como exemplo, ele citou a perseguição policial que resultou na morte de três jovens e a apreensão de um garoto de 16 anos, terça-feira.

Todos eram de Periperi e retornavam ao Subúrbio após roubarem a moto de um casal no bairro de Pitanguinha. O menor se rendeu, enquanto o restante do grupo fugiu e acabou morto no CIA por policiais da 22ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), de Simões Filho.

“Os bandidos eram de Periperi, bairro vizinho de Fazenda Coutos, onde hoje tem uma Base que atende também as adjacências”, declarou o delegado Adam.
Ontem, os mortos foram identificados como Welton Iuri Santos Ciqueira, 21 anos, Edmílson Souza Costa Júnior, 15, e Igor Rocha Cerqueira, sem idade confirmada. Welton já tinha sido preso por tráfico.

De acordo com a polícia, com o grupo foram apreendidos dois revólveres calibre 38, uma pistola calibre 6.35, duas trouxinhas de maconha e outras duas de cocaína.

“É natural que a bandidagem procure outros pontos para praticar seus delitos, uma vez que a região dela está sob uma vigilância maior da polícia. Temos informações de que bandidos de Itinga vieram para nossa área após a instalação da Base lá”, disse Adam.

Para o sub comandante da 22ª CIPM, capitão Márcio Morais, outro fator tem feito a bandidagem realizar ações na cidade. “As vias de acesso influenciam. Simões Filho é um entroncamento para uma BR (324) e três BA-s (093, 526 e 528), além de ter muitas entradas pela área rural. A cidade faz divisa com Salvador por Paripe e Fazenda Coutos, além de Valéria, Camaçari, Lauro de Freitas e Candeias”, explica o capitão. 

Ocorrências

Segundo Adailton Adam, a incidência maior de ocorrências em Simões Filho é de crimes contra a vida e o patrimônio. Mas, como ele define, “o tráfico tem agitado” as estatísticas nos últimos meses. “Quando Júnior do Gueto foi preso, em janeiro do ano passado, houve uma queda nos crimes, mas depois houve uma percepção de que a ausência dele gera uma disputa pela bocas de fumo no bairro Cristo Rei”, disse Adam.

Ele garante que já tem a identificação de todos os bandidos. “Vamos preservar os nomes para não prejudicar o trabalho da polícia. Eles certamente serão presos”.

No dia 12 deste mês, oito presos fugiram da 22ª DP, depois de serrarem a grade do teto. Júnior do Gueto está entre os bandidos que agora estão à solta.



Mapa da Violência 2013
141,5
Taxa média de mortes por arma de fogo em Simões Filho, entre os anos de 2008 e 2010. Cidade é a primeira do país nesse tipo de óbito

106,6
Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana, aparece em terceiro lugar no país no levantamento do Instituto Sangari

91,4
A cidade turística de Porto Seguro, no Extremo Sul do estado, está em sexto lugar no ranking nacional do Mapa da Violência

63,1
Esta é a taxa média de mortes de Salvador entre 2008 e 2010. A capital baiana aparece na 30º posição no Mapa da Violência 2013

Para delegado, cidade contabiliza mortes ocorridas em outros locais

O Mapa da Violência 2013, divulgado pelo Instituto Sangari com base em dados dos ministérios da Justiça e da Saúde, aponta que a cidade de Simões Filho teve uma taxa média de 141,5 homicídios por cada 100 mil habitantes, entre os anos de 2008 e 2010. Esta taxa coloca a cidade como a primeira do país em mortes com arma de fogo, entre aquelas que têm mais de 20 mil habitantes.

“Sobre os dados do Instituto Sangari, em relação a mortes, temos percebido que o número de ocorrências foi notificado pelo Hospital de Simões Filho e que 40% das vítimas não tiveram passagem pelo município. Ou seja, são de regiões vizinhas”, argumenta o delegado Adailton Adam.

Ele também observa que as vastas áreas de vegetação fechada da cidade favorecem à prática de “desova” de cadáveres. “Isso contribui para a ação de grupos de extermínio. Grande parte dos corpos deixados em Simões Filho é de execuções em Salvador e Lauro de Freitas”, disse. Segundo ele, a Secretaria da Segurança Pública criou uma força-tarefa para investigar estes casos.

O delegado não descarta o envolvimento de policiais em grupos de extermínios. “Não faz muito tempo prenderam PMs que mataram e jogaram o corpo de um jovem no CIA. O mandante foi um comerciante”. No Mapa da Violência, Lauro de Freitas aparece em 3º lugar, com taxa média de 106,6. Porto Seguro está em 6º (91,4) e Eunápolis em 8º (87,4). Entre as 30 mais violentas do país, ainda aparecem Itabuna, Jacobina, Dias D’Ávila e Salvador.
Fonte  Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br

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