Quando o muro não é uma opção por Fernando Duarte

Foto: Max Haack / Ag. Haack
A primeira semana após o primeiro turno das eleições 2018 será marcada por anúncios de apoios às candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Enquanto os partidos mais à esquerda marcham com o petismo, a maior parte das legendas autoproclamadas de centro finge que vai ficar neutra. Na verdade, há um constrangimento em declarar apoio a uma candidatura que pregou a não existência de alianças políticas, por isso formalmente nenhum partido sério deve aderir ao projeto bolsonarista.

Na Bahia, um dos principais atores da cena política, ACM Neto (DEM), se viu numa encruzilhada. Presidente nacional do DEM, o prefeito de Salvador liberou os diretórios estaduais a seguirem suas próprias necessidades. No entanto, ele próprio declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno.

O desenho de aproximação entre ACM Neto e o candidato do PSL não é de agora. A declaração de apoio de Zé Ronaldo ao capitão, ainda no primeiro turno, foi o primeiro sinal disso. Engana-se quem acredita que o então candidato do DEM ao governo da Bahia faria um movimento como esse sem combinar com o grupo político que o apoiava. No entanto, o perfil de ACM Neto é muito mais próximo da candidatura de Haddad do que da aspiração de Bolsonaro. O próprio prefeito havia apontado que tinha divergências básicas com o antigo colega de legislativo. Ainda assim, as circunstâncias políticas o impeliriam a marchar contra o petismo.

O PT e o DEM sempre estiveram em lados completamente opostos da democracia brasileira. O caso mais emblemático de desgaste entre ambos foi a ameaça de surra no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizada pelo então deputado federal ACM Neto. Em terras baianas, as relações sempre colocaram os dois partidos como ferrenhos adversários e não era inteligível esperar que, após tantas rusgas públicas, o prefeito de Salvador aderisse a um projeto petista.

Ainda assim, no contexto atual, não seria estranho se houvesse ao menos uma tentativa tímida de negociar o republicanismo em prol da promessa de democracia no Brasil – afinal, um dos principais argumentos anti-Bolsonaro é amparado nos flertes do candidato com atitudes totalitaristas. Não foi o que aconteceu. ACM Neto “escolheu o lado errado” da disputa na avaliação de aliados do PT.

O resultado dessa opção do prefeito de Salvador não será medido única e exclusivamente nas urnas durante o segundo turno. A fatura do apoio a Bolsonaro deve vir mais à frente. E seria cobrada, inclusive, se ACM Neto optasse por Haddad. Todavia, ficar em cima do muro provavelmente custaria ainda mais caro para quem planeja a médio ou longo prazo. Essa conta ele não teria como pagar.
Por: Bahia noticias

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